Nos últimos anos, as redes sociais se consolidaram como um poderoso meio de comunicação e marketing, permitindo que profissionais de diversas áreas alcancem um grande público rapidamente.
Contudo, essa mesma ferramenta, que permite a difusão do conhecimento, também abriu espaço para um fenômeno perigoso: a promoção de indivíduos que se autodenominam especialistas, mas que, na realidade, carecem de experiência prática para sustentar tal título.
Isso é particularmente preocupante no meio jurídico, onde as consequências da contratação de um advogado sem a devida qualificação prática podem ser desastrosas para o cliente.
A Importância da Experiência Prática
Embora títulos acadêmicos como especialização, mestrado e doutorado sejam importantes, nada substitui a experiência prática.
O cotidiano forense, a interação com clientes, audiências, juízes e promotores, e o enfrentamento das dificuldades processuais são fatores essenciais para a formação de um advogado verdadeiramente competente.
Na prática jurídica, a teoria frequentemente se revela insuficiente, e os desafios do dia a dia forense exigem muito mais do que apenas conhecimento acadêmico.
Infelizmente, muitos advogados, sem a experiência necessária, se utilizam das redes sociais para criar uma imagem de autoridade.
Com postagens bem elaboradas e a disseminação de conteúdo técnico, conseguem convencer o público leigo de que são especialistas em determinadas áreas do direito.
No entanto, essa falsa “especialidade” pode ser rapidamente desconstruída com uma simples consulta ao JUSBRASIL, onde é possível verificar a quantidade de processos em que o advogado realmente atuou e sua participação efetiva no mundo jurídico, apenas pelo nome.
O Caso dos Seguidores Falsos
Um exemplo prático dessa manipulação pode ser visto em um atendimento que fiz a um cliente lesado por outro advogado, onde o advogado, por meio de suas redes sociais, conquistava centenas e até milhares de seguidores.
À primeira vista, isso poderia passar a impressão de que ele era um profissional renomado e com grande experiência. No entanto, após ser lesado e ao investigar mais a fundo, ficou evidente que grande parte desses seguidores eram perfis falsos (“fakes”), muitos deles residentes em outros países, sem qualquer compreensão da língua portuguesa ou do trabalho que o advogado desenvolvia, portanto, estranhos a ele.
Essa prática tinha como objetivo enganar potenciais clientes, fazendo-os acreditar que estavam diante de um advogado popular e qualificado, quando, na verdade, tudo não passava de uma estratégia de marketing enganosa.
Providências Necessárias pela OAB
Diante desse cenário, é essencial que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) tome medidas para proteger o cidadão comum.
Algumas providências que poderiam ser adotadas incluem:
- Criação de um Banco de Especialistas: A OAB poderia criar um banco de dados de advogados especialistas, baseado não apenas em títulos acadêmicos, mas também na comprovação de experiência prática. Esse banco seria acessível ao público, permitindo que os clientes verifiquem a real competência dos advogados antes de contratá-los, sendo que somente os advogados apresentados nele poderia publicitar que seriam “especialistas”.
- Fiscalização das Redes Sociais: Embora a OAB já tenha regras de publicidade, é necessário intensificar a fiscalização no ambiente das redes sociais. Advogados que se utilizam de práticas enganosas, como a compra de seguidores falsos ou a divulgação de títulos sem mencionar a falta de prática, devem ser punidos para evitar que induzam a erro os cidadãos.
- Campanhas Educativas: A OAB pode lançar campanhas educativas, ensinando o público a verificar as credenciais de um advogado e a importância de conferir sua experiência prática, especialmente por meio de plataformas como o JUSBRASIL, e outras.
- Certificação de Especialistas com Base em Experiência Prática: A criação de um selo de certificação para advogados que comprovem experiência em uma área específica seria uma forma de garantir que o cidadão saiba que está contratando um verdadeiro especialista, não apenas um profissional com títulos acadêmicos, mas sem vivência forense.
Conclusão
As redes sociais, embora sejam uma ferramenta de grande potencial, também têm um lado nefasto, principalmente quando utilizadas para promover advogados sem experiência prática como se especialistas fossem.
A contratação de um advogado que apenas aparenta ser qualificado pode levar a prejuízos irreparáveis para o cidadão, que, ao confiar sua causa a alguém sem preparo, pode ter seus direitos comprometidos.
A experiência prática é insubstituível, e por mais títulos que um advogado possa ter, é o confronto com os desafios do dia a dia que o forma verdadeiramente como profissional.
É fundamental que a OAB intensifique sua fiscalização e tome medidas concretas para proteger os cidadãos, garantindo que aqueles que se apresentam como especialistas possuam a experiência necessária para atuar de forma eficaz no exercício da advocacia, para que só assim possam se apresentar como.