Leis do Senso Comum aplicadas à Advocacia

O Direito, embora seja ciência normativa, convive diariamente com situações imprevisíveis e práticas de gestão que transcendem a letra fria da lei. Nesse contexto, algumas máximas empíricas de senso comum — conhecidas como “leis” — oferecem lições valiosas para a advocacia, a administração de escritórios e a vida profissional em geral. Essas regras não têm […]

Advogados e gestores em escritório moderno, com balança da justiça e gráficos digitais futuristas.

Sumário

O Direito, embora seja ciência normativa, convive diariamente com situações imprevisíveis e práticas de gestão que transcendem a letra fria da lei.

Nesse contexto, algumas máximas empíricas de senso comum — conhecidas como “leis” — oferecem lições valiosas para a advocacia, a administração de escritórios e a vida profissional em geral.

Essas regras não têm caráter jurídico, mas funcionam como princípios heurísticos: pequenos lembretes que ajudam a antecipar riscos, organizar prioridades e interpretar melhor os conflitos.

1. Clareza é meio caminho andado: a Lei de Kidlin

  • “Se você consegue escrever claramente o problema, já encontrou metade da solução.”

Aplicável diretamente à advocacia, esta máxima reforça a importância de delimitar corretamente os fatos e pedidos. A petição bem estruturada não apenas facilita a compreensão do juízo, como já encaminha a solução jurídica.

2. Antecipar riscos: a Lei de Murphy

  • “Se algo pode dar errado, dará errado.”

Na prática forense, significa protocolar petições com antecedência, revisar assinaturas digitais e preparar plano B para audiências virtuais. A prudência evita prejuízos irreparáveis.

3. Gestão do tempo: a Lei de Parkinson e a Lei de Hofstadter

  • Parkinson: “O trabalho se expande até preencher o tempo disponível.”

  • Hofstadter: “Sempre leva mais tempo do que você espera.”

Essas máximas ensinam que o advogado deve controlar sua agenda, impor prazos internos menores que os judiciais e manter margens de segurança.

4. O risco das métricas: as Leis de Goodhart e Campbell

  • “Quando uma medida se torna meta, deixa de ser uma boa medida.”

Em escritórios e departamentos jurídicos, medir apenas “quantidade de peças produzidas” pode sacrificar a qualidade. É preciso estabelecer indicadores de resultado real (êxito, valor recuperado, impacto estratégico).

5. Conflitos desproporcionais: a Lei de Sayre

  • “A intensidade da disputa é inversamente proporcional ao valor em jogo.”

Explica litígios familiares e condominiais, onde questões emocionais geram processos muito mais acirrados do que grandes contratos empresariais. O advogado deve interpretar os interesses ocultos para propor soluções adequadas.

6. Gestão de pessoas: Princípio de Peter e Princípio de Dilbert

  • Peter: “As pessoas tendem a ser promovidas até o nível da incompetência.”

  • Dilbert: “As organizações isolam incompetentes na gerência.”

Na gestão jurídica, lembra que bons técnicos nem sempre são bons gestores, e que hierarquias artificiais podem prejudicar a qualidade do serviço.

7. Informação e prova: Brandolini, Hanlon e Sagan

  • Lei de Brandolini: Refutar bobagem consome muito mais energia do que produzi-la.

  • Navalha de Hanlon: Não atribua à malícia o que se explica por erro.

  • Padrão de Sagan: Alegações extraordinárias exigem provas extraordinárias.

Essas três máximas são extremamente úteis em processos:

  • evitar teses irrelevantes,

  • não desgastar-se com más intenções inexistentes,

  • e exigir proporcionalidade entre alegação e prova.

8. Priorização: Princípio de Pareto (80/20)

  • “20% dos esforços geram 80% dos resultados.”

No Direito, significa concentrar energia na tese principal, na prova decisiva e na audiência crucial, ao invés de dispersar esforços em pontos marginais.

9. Tecnologia e futuro: Lei de Amara

  • “Superestimamos os efeitos de uma tecnologia no curto prazo e subestimamos no longo prazo.”

Na advocacia digital, ensina a não esperar milagres imediatos da Inteligência Artificial, mas também a não subestimar sua capacidade de transformar radicalmente a prática forense em poucos anos.

Conclusão

Essas “leis do senso comum” não são normas jurídicas, mas verdadeiros princípios de gestão, prudência e estratégia que podem orientar a vida do advogado, do gestor e do profissional moderno.

Aplicadas ao dia a dia da advocacia, ajudam a escrever melhor, gerir prazos com inteligência, compreender conflitos, evitar armadilhas de produtividade e adotar tecnologias com visão estratégica.

Mais do que curiosidades, são lembretes práticos de que o exercício do Direito exige não apenas técnica, mas também sabedoria para viver e trabalhar melhor.

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Gostou do artigo Leis do Senso Comum aplicadas à Advocacia Compartilhe…

Continue lendo outros artigos relacionados:

Andamento do PDL 89/2023 no Congresso Nacional, com foco na disputa entre comissões.
Artigos Jurídicos

PDL 89/2023: Análise Jurídica e Andamento Atual na Câmara

O Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 89/2023, de autoria da Deputada Chris Tonietto, propõe a sustação integral dos efeitos da Resolução n.º 492/2023 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A referida resolução estabelece a adoção

Leia Mais »
Uma balança da justiça desequilibrada, ilustrando o conceito de lawfare na advocacia e o abuso do direito.
Advocacia - Estatuto e Cód. Ética

Lawfare na Advocacia: Dever de Boa-Fé ou Vitimização?

A discussão sobre lawfare na advocacia tem ganhado contornos preocupantes no cenário jurídico brasileiro. Originalmente conceituado como o uso estratégico do direito para fins de perseguição política ou deslegitimação de um adversário, o termo vem

Leia Mais »
Impacto da invalidação do art. 19 do Marco Civil na judicialização em massa.
Artigos Jurídicos

Invalidação do art. 19 do Marco Civil: Riscos e Danos

A recente discussão sobre a invalidação art 19 Marco Civil (Lei nº 12.965/2014) acende um alerta máximo. De fato, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) ameaça o futuro da liberdade de expressão. Ao co-responsabilizar

Leia Mais »
×